Áudio Augmented Reality

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Antes de ler essa newsletter a gente pede para você tirar o fone de ouvido. Nem percebeu que estava usando, né? O crescimento dos headphones e earplugs wireless, bem como a melhora da qualidade da internet e o número de plataformas de streaming de música, tornaram o ato de escutar qualquer coisa que seja, estando no notebook ou no celular, algo natural. Tão natural que é quase uma “nova realidade”, só que intermediada por uma mídia digital. O que nos leva à questão: por que não considerar o áudio como a principal interface para a realidade aumentada?

Mas antes, um contexto

Quando foi lançado, o AirPod foi questionado, mas o tipo de relação que ele criou com os usuários criou um novo limite para o áudio ligado ao smartphone: as pessoas podem estar conectadas com o fone o dia inteiro – e, acredite, elas ficam. Nos Estados Unidos, por exemplo, quase 7% da receita de vendas do AirPod veio a partir de pessoas que estavam substituindo seus fones – de tanto que usaram. A situação chegou a um ponto que, no ano passado, a autoridade de transporte de Nova York pediu para que os usuários começassem a prestar atenção em seus airpods devido à alta quantidade de fones perdidos pelo metrô. O mercado de devices de som wireless está crescendo bastante de US$ 57,3 bilhões neste ano para US$ 134,2 bilhões em 2025, estima a MarketsandMarkets.

Solta a voz

Hardware, ok! Mas e a usabilidade? Cada vez mais aplicativos estão contando com o áudio como a mídia de interação – pense nos audiobooks, ou nos aplicativos de meditação que, nos últimos meses tiveram 100 milhões de downloads pelo mundo, segundo a Sensor Tower (alta de downloads desses apps entre abril e março foi de 55% no Brasil, inclusive), até mesmo os apps de navegação como o Waze, tem a voz como um meio importante – não é à toa que eles chamam um pessoal para fazer vozes diferentes para narrar o GPS. Outro ponto que mostra que o usuário, principalmente o brasileiro, já usa bem o áudio – que não de música – no smartphone? O áudio no WhatsApp! Durante a pandemia, 60% dos brasileiros afirmaram que usaram o áudio do WhatsApp no lugar de ligações pelo telefone. Outra pesquisa, esta feita pela Exame e pela MindHunters, mostra que 56% dos brasileiros gostam muito de enviar áudio e 57% dizem gostar bastante de receber mensagens de voz no aplicativo (único detalhe, 21% dizem que áudio em QUALQUER TAMANHO é aceitável, mas mais da metade dos respondentes diz preferir receber várias mensagens de voz pequenas no lugar de uma grande).  Isso sem contar a quantidade de analfabetos funcionais no Brasil, ou até mesmo no número de pessoas que, por alguma razão, não conseguem acessar o teclado do smartphone: o áudio, para elas, é uma forma de acesso às plataformas digitais. O universo é enorme quando pensamos em oportunidades migrando do visual para o áudio.

Walk and Listen

Tudo isso dito, é de se esperar que o áudio possa chegar a novas fronteiras do digital, ou do mundo real. A Foursquare lançou há algumas semanas o Marsbot, um sistema que usa a voz e o GPS para dar recomendações de lugares às pessoas. Funciona mais ou menos assim: o usuário passa por um lugar que tenha algum tipo de indicação em áudio e pode optar por escutá-las. Tais interações podem ser, por exemplo, o comentário de alguém sobre um restaurante ou informações sobre atrações locais que estiver passando. Os usuários do Foursquare poderão gravar pequenas recomendações sobre o espaço que vão, e elas ficarão acessíveis pelo Marsbot. Para Dennis Crowley, CEO do Foursquare, o Marsbot pode funcionar como um “guia invisível”, e, mais importante, ele cria uma interação diferente dos assistentes de voz por ser pró-ativo. “Qualquer assistente de voz pode responder questões sobre a localização, mas nenhum deles te alerta quando você passa sem perceber”, comentou. Algumas empresas já operam dessa forma, mas pensando unicamente em criar guias turísticos com o combo Voz e GPS. É o caso da GyPsy Guide e da VoiceMap. Mas existe no roadmap do Marsbot (pun intended) aceitar ads em voz para os espaços. É um caminho a se observar, ou melhor, se escutar, principalmente para apps de navegação, como o Waze, ou até mesmo apps de exercício, como o Strava e o RunKeeper. Além de dicas e publicidade, pense no potencial educativo… Quantos de nós, em nosso dia a dia, não passamos frequentemente por locais, alguns deles históricos e com muito conteúdo para contar, e nem sabemos ao certo o porquê estão ali? Não seria interessante se, no meio da navegação, o aplicativo apontasse por exemplo que há uma escultura ali no caminho, e te contasse o contexto e a história daquele monumento?

Veja com os ouvidos

A “realidade aumentada” com experiências de som enriquecendo o espaço físico também é o foco da Echoes. A startup cria diversos tipos de interações usando o smartphone e sons. Uma delas criou “o som das árvores”: em parceria com a Academia Real de Música, da Inglaterra, eles criaram músicas e sons específicos para as plantas do Regents Park, em Londres. Assim, quando a pessoa ligava o app e andava pela região, podia ter essas sensações em conjunto. Às vezes nos vemos apenas olhando para o futuro quando falamos de VR e AR, na semana passada mesmo comentamos sobre o 5G e o quanto a rede vai facilitar os óculos de realidade virtual, que esquecemos da tecnologia que já existe e que já é possível para criar algo nos dias de hoje, e áudio é um delas (o que nos faz lembrar um pouco da história do Google Glass, que “morreu na praia” exatamente por apostar apenas no vídeo como espaço para AR).

Imersão em áudio

Também já falamos aqui no Morse em abril (edição 152, para sermos mais exatos) sobre os áudios imersivos, com sensação tridimensional, com a capacidade de envolver as pessoas a ponto de conseguir fazer alguém visitar algum local, apenas com a sensação de áudio.  De lá para cá, o AirPod Pro tem aumentado as suas features que melhoram a qualidade do surround sound, trocando o stereo para o apoio ao áudio espacial. Lá no começo da quarentena, falamos aqui sobre uma tecnologia de som que já existe (o 8D) capaz de fazer uma imersão completa no ambiente.  

Minority Alexa ou Siri Report?

Se você, assim como nós (declarando a idade), tem o filme com Tom Cruise como referência máxima de um mundo no qual diversas opções aparecem visualmente pelo caminho proporcionando conteúdo e interatividade, pense duas vezes, pois você provavelmente já deve ter tropeçado, chutado uma árvore, ou quem sabe até caído numa piscina, ao tentar andar, sem falar em dirigir, enquanto visualiza algo no celular. Aí entra a grande oportunidade! Quando, por exemplo, optamos por criar o Podcast do Morse, tínhamos algo em mente; é mais fácil disputar a atenção do ouvido do que dos olhos das pessoa (bom momento para dizer que somos muito gratos a você que está conosco até o final desta leitura) isso porque, em nosso dia a dia, temos muito mais demanda por interações visuais do que auditivas. E justamente aqui fica nosso ponto, será que as novas oportunidade de realidade aumentada não estariam no áudio? De forma discreta em nossos fones de ouvido, ao invés de gadgets de cyborgs quando tentamos olhar para frente enquanto damos swipe left em algo que apareceu na tela para não cair num buraco? 

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