Ghost Interview
Ashton Kutcher entra na sala
Ashton Kutcher, para alguns ele é um excelente ator de comédia, para outros, ele é o ex-namorado da Demi Moore e @ popular no Twitter, para a gente ele é um dos principais investidores do Vale do Silício. Algumas empresas que ele já deu funding-inicial: Uber, Airbnb, Skype, Spotify, Shazam, Nest, Duolingo, Calm. Basicamente, a gente já estava fazendo Ghost Interview com ele sem saber, então mais fácil trazer o Ashton para o Summer Ghost de hoje.
O ator – que coincidentemente ou não retratou Steve Jobs em um dos filmes sobre o criador da Apple – começou investindo pessoalmente em companhias de tecnologias como o Square, mas, em 2010, se juntou a Guy Oesary e criou a A-Grade Investment voltado apenas para investimento-anjo. Menos de 6 anos depois, o fundo passou de US$ 30 milhões para US$ 250 milhões, o que impulsionou a dupla a gerenciar um novo fundo – só que de US$ 100 milhões e mais amplo no escopo de investimento, chamado Sound Ventures. – que hoje em dia tem mais de 80 empresas no seu portfólio. E se você acha que em 2020 ele está parado, bem, apenas leiam esta entrevista:
MORSE: Ashton, como, raios, você foi parar no mundo do venture capital? E como conheceu o ex-empresário da Madonna, Guy Oseary e o bilionário Ronald Burkle?
Ashton Kutcher: Eu comecei investindo como uma pessoa independente. Eu tinha uma produtora e vi a velocidade de buffer começando a aumentar no meio online. Percebemos que haveria uma migração da entrega de conteúdo para esse espaço. Estava entrando nessa área de audiência online, eu comecei a procurar maneiras diferentes de quantificar audiência digital. Então entrei em contato com companhias que estavam fazendo isso, fiz uns investimentos iniciais.
Quando eu comecei a fazer isso, acabei abrindo meu espectro e conheci vários fundadores. Eles falavam comigo diretamente. Eu investi na Square, do Jack Dorsey, porque eu o conheci pelo meu uso e relação com o Twitter. Eu investi no Foursquare. Tudo com o meu próprio dinheiro. Foi assim com o Skype também.
Meu critério era bem pessoal: se eu gostava do produto, ou da usabilidade do produto. E, bem, nessa época eu estava disposto a ser a pessoa mais burra na sala. Eu estava andando com um pessoal bem brilhante e tinha conversas bem transparentes sobre as empresas, e eles conseguiam me vender o produto para investir. Nenhum ator estava investindo na época, na verdade, ninguém estava [era 2009, na crise econômica]. E, por eu ser ator, as empresas gostavam de falar comigo ou que eu investisse porque também dava espaço para elas na imprensa.
Foi quando Guy Oseary veio falar comigo, dizendo que poderia levantar funding para a gente. Eu fiquei aliviado, porque eu estava ficando sem dinheiro, se eu continuasse apenas colocando a grana nas empresas sozinho, não duraria muito tempo. Quando nos encontramos com o terceiro sócio na época, Ron Burkle, e criamos o A-Grade, eu e Guy colocamos parte do nosso dinheiro para o fundo.
Fonte: Entrevista ao podcast Recode Decode em 17 de outubro de 2016
MORSE: Qual era o seu papel nas empresas como investidor-anjo e hoje em dia?
Ashton Kutcher: Um exemplo foi o Airbnb, que eu investi mas também fui conselheiro estratégico para a área de marketing, branding e para ajudar no crescimento internacional deles.
Quando comecei como investidor anjo, eu vinha do espaço da mídia, e percebi que isso poderia ser útil para algumas companhias começando. Por quê? Porque na mídia ainda tem muitas pessoas influentes e eu conseguia falar com elas diretamente, e esse poder era – e ainda é – valioso para as startups que estão começando. Eu apresentava pessoas aos fundadores, o que era útil para eles também.
Fonte: Entrevista no TechCrunch Disrupt NYC 2011 em 25 de dezembro de 2011
Ashton Kutcher: Hoje em dia, gosto de sentar com eles [empresas investidas] e conversar diretamente sobre o produto que estão fazendo, gosto de ajudar a trabalhar para remover a fricção dos processos, criar produtos e serviços mais intuitivos. Como ator, estou num espaço da criatividade, do feeling e da arte, então tenho ferramentas para ajudar a criar o impulso de uso no consumidor e também de entendê-lo.
Fonte: Entrevista à CNN Business em 13 de abril de 2016
MORSE: Ashton, pode contar um pouco sobre como foi o investimento inicial no Uber, o que levou você a colocar US$ 500 mil na empresa lá em 2011?
Ashton Kutcher: Eu escutei o pitch do Uber antes mesmo da empresa levantar um dólar. Eu conheci o Travis [Kalanick, fundador do Uber], no SXSW, e ele começou a falar para mim sobre uma companhia em que um carro preto iria te buscar onde você quisesse. Eu questionei a ideia, perguntando, “mas quem vai querer um carro preto? Por que a pessoa não pega logo um táxi?”. E ele me respondeu que seria só apertar um botão para o carro aparecer. Eu não gostei do conceito dos ‘carros pretos’ e passei a ideia adiante, não investi. Mas fiquei com essa história na cabeça, quanto mais eu pensava no produto, mais eu via que tinha um mercado gigante para ele. Então eu liguei de volta para o Travis [nessa ligação, ele teria falado a já famosa frase “não se trata sobre mudar o mercado de táxi, mas a própria noção de ter um carro”]. Eu diria que a mesma coisa aconteceu quando eu escutei falar sobre o Airbnb, fiquei me perguntando: quem é que vai querer um estranho dormindo no seu sofá? Não é tipo couch-surfing?”.
O Peter Thiel escreveu um livro sobre isso, sobre como a base de fundação de grandes empresas, muitas vezes, são extraordinariamente contra-intuitivas. Os fundadores dessas companhias têm dados que mostram que, na verdade, a intuição relativa a alguns setores que está errada. Quando eles acham esse ponto, onde a intuição coletiva está errada, eles conseguem chegar num pasto vazio de mercado que ninguém está construindo. E é assim que novos setores são criados.
Fonte: Entrevista ao Business Insider em 20 de abril de 2017
MORSE: De 2011 para 2020, o mercado de tecnologia mudou bastante, você sente que sua estratégia de investimento acompanhou essa transformação? Tem algo que você não olhava antes e agora presta mais atenção?
Ashton Kutcher: Em 15 anos, a estratégia está sempre mudando. Acredito que a grande coisa que mudou em mim ao longo dos anos foi que, antes, eu olhava para tecnologias que achava que eram inovadoras e, a partir daí, procurava aplicações e negócios que utilizassem esse tipo de tecnologia. Ao contrário do que faço hoje em dia, quando eu procuro algum comportamento humano que já existe e então tento identificar a tecnologia que se encaixa e melhora esse comportamento seja tornando-o mais rápido, mais eficiente, menos custoso.
Outra coisa que aprendi com o tempo foi entender a diferença entre confiança e arrogância no momento que converso com os fundadores. Eu acho que minha abordagem para investir em diversidade de fundadores também mudou bastante, eu costumava procurar produtos que se aplicavam para os consumidores médios, sendo esse consumidor médio eu mesmo, e eu percebi que eu acabei ficando com um portfólio concentrado em companhias fundadas por homens. E encontrei um ponto cego enorme na minha estratégia porque não tinha expertise em produtos voltados para a audiência feminina, então trouxe uma sócia para o Sound. Desde que fizemos, aumentamos em 30% o número de empresas fundadas por mulher no fundo.
Fonte: Apresentação/entrevista no IBM Think de fevereiro de 2019
MORSE: Pensando nessas estratégias todas, quais as perguntas que você faz e o que você valoriza durante um pitch?!
Ashton Kutcher: A primeira pergunta que faço aos fundadores é: ‘por que você é melhor do que qualquer outra pessoa no mundo em desenvolver essa solução? Para se sair bem, os fundadores precisam me dizer qual a tese por trás dos negócios que torna a empresa realmente única, que impede que outras startups similares prosperem e que companhias maiores entrem e dominem esse mercado”
Eu também procuro investir em startups com visão clara sobre o futuro da empresa. No fim, a pergunta que eu me faço é: ‘eu sairia do meu trabalho hoje e iria trabalhar para essa empresa?’ Porque é isso o que eu realmente faço. Eu e minha equipe trabalhamos em conjunto com os fundadores quando investimos em uma empresa. Investimos muito tempo e esforço. Então, é preciso ter uma visão alinhada.
Fonte: Apresentação feita no QuickBooks Connect 2019 e reportada pela InfoMoney em 9 de novembro de 2019
MORSE: Lá em 2013, você falou que não havia vencedor no Mobile com maestria e ainda previu, acertadamente, que empresas como o Facebook iriam ganhar nesse mercado. E agora, para que segmento está olhando, onde a Sound pretende investir mais?
Ashton Kutcher: Nos últimos tempos teve uma explosão de empresas D2C, é um espaço que se abriu para companhias mudarem um pouco produtos mais estabelecidos e para elas se basearem mais na relação direta com o consumidor para fortalecer o branding. Acho que algumas dessas companhias vão tropeçar – principalmente porque existem aquelas que acham que ter uma boa engenharia em redes sociais que as tornarão vencedoras – agora existem outras nesse espaço que podem ganhar, principalmente porque têm espaço grande no mercado e habilidade para criar tração com os consumidores. E acho que elas têm poder de criar o efeito em cadeia nos setores que estão inseridas, então estamos olhando bem para esses tipos de empresa.
Agora, sobre o futuro, bem, se eu soubesse com toda a certeza qual vai ser a próxima onda, eu estaria correndo para construir um produto para isso amanhã já. Meu trabalho como investidor não é qual é a próxima onda, mas sim de saber identificar que uma empresa trouxe a grande onda.
Eu posso dizer aqui que inteligência artificial será a próxima onda do mercado de tecnologia, mas, sinceramente, todo mundo está falando isso. Todo mundo está construindo utilizando AI, então quando a gente olha o assunto mais de perto, percebe que a AI sozinha não é exatamente uma tendência para empresas. Talvez a tendência de verdade seja como elas estão rolando e entendendo as suas bases de dado usando AI.
Fonte: Apresentação no TechCrunch Disrupt SF 2018 em 5 de setembro de 2018
MORSE: Última pergunta, Ashton: você interpretou Steve Jobs em 2013, e lemos que você se empenhou no papel – até mesmo fez a dieta frugívora de Steve. Teve algo que aprendeu durante essa filmagem que usa até hoje quando você olha para startups?
Ashton Kutcher: A maior lição que tive enquanto interpretei Jobs e que consigo compartilhar com empreendedores é o foco em fazer algo que de tão intuitivo que chega a ser bobo. Muitos engenheiros são as pessoas mais brilhantes que você conhece e eles podem achar o produto que criaram fácil. Mas é apenas fácil para eles. O produto precisa ser tão simples que todo mundo pode usá-lo, ou ele não é ubíquo e acessível.
Fonte: Entrevista ao TechCrunch em 5 de agosto de 2013
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