Ghost Interview
A volta da Microsoft ao Mobile
Se na semana passada falamos com Bill Gates, nessa, a gente foi atrás do cara que o substituiu à frente da Microsoft: Satya Nadella. Além de atual CEO, Nadella é o responsável por tirar as nuvens do fundo da tela de abertura do Windows (se você entendeu essa referência, a gente já sabe a sua idade!) para se tornar a principal linha de receita da Microsoft.
Nadella está na Microsoft desde 1992, nela, foi responsável pelo Bing e, quando estava na vice-presidência da área de R&D dos serviços online da empresa, ele chefiou a criação da Azure, o serviço de cloud da empresa de Gates. E, desde 2014, ele colocou a nuvem como o principal foco da empresa – objetivo que teve mais de US$ 30 bilhões de receita no ano passado, inclusive. No Ghost de hoje ele fala um pouco sobre inovação, o futuro da cloud no mundo Mobile e sobre como a nuvem está possibilitando o trabalho durante a crise do Covid-19:
MORSE: Satya, logo que você virou CEO, seu primeiro anúncio já foi colocar a política “mobile-first, cloud-first” na Microsoft, e essa mudança de pensamento foi colocada em prática nos últimos anos. No ano passado, a divisão teve receita de US$ 33,1 bilhões, qual a sua visão para o futuro? Satya Nadella: O sistema operacional não é mais a camada mais importante para a gente. O que é mais importante para a gente é o modelo de aplicação e a experiência. Atualmente, a noção de que o device é o centro da computação não faz mais sentido. O futuro será, acima de tudo, alimentado pela nuvem.
Fonte: Entrevista à Wired em 10 de fevereiro de 2019
Satya Nadella: Por muitos anos nos dedicamos a construir aplicativos e plataformas, mas a interação, agora, não deve mais priorizar os devices e sim as pessoas. O pensamento não é mais ‘device first’ mas sim ‘human first’, com o ser humano no centro de tudo. Hoje, a tecnologia nos guia nessa missão de empoderar cada pessoa e cada empresa do planeta a alcançarem mais
Hoje não existem mais empresas de tecnologia. Todas as companhias são de tecnologia e todas precisam desenvolver habilidades digitais. O próximo avanço que irá transformar a vida das pessoas não virá necessariamente de uma empresa tecnológica, mas pode vir de um varejista. A função da Microsoft é dar independência e poder para que cada um de nós e para que todas as empresas participem da economia e para que tenhamos no mundo uma economia baseada na criação
Fonte: Apresentação na MWC 2019, como reportado pelo Meio & Mensagem em 24 de fevereiro de 2019
MORSE: No Ghost passado, o Bill Gates falou sobre a frustração que teve ao não fazer a Microsoft se tornar o Android do Mobile. No começo da sua carreira como CEO, você chegou a chefiar a compra da Nokia e depois a desistência geral de fazer o Windows Phone. Com a sua estratégia em cloud, o Mobile voltou para o radar da empresa, como?Satya Nadella: No contexto mais amplo, nós estamos olhando para os 50 bilhões de devices [com IoT, do mundo]. O Windows tem 1 bilhão de usuários, o Android tem os 2 bilhões o que é bom, o iOS tem um bilhão, o que é bom – mas existem 46 bilhões de devices mais. Então a gente olha para esses 46 bilhões e definimos uma estratégia.
Às vezes eu digo que a gente deveria chamar o Windows de “Azure Edge”. Nossa nova organização fez com que os times sejam o mesmo. Se é algo no Surface ou é algo na Azure.
Fonte: Fala à imprensa em evento privado como reportado pelo The Verge em 21 de janeiro de 202
MORSE: Agora vocês também têm falado sobre a cloud no mundo da inteligência artificial: como as duas pontas se juntam? E como os dados estão inseridos nisso?Satya Nadella: Nós estamos passando por uma transformação massiva, é que eu descrevo como a cloud inteligente e a edge inteligente. Pensa nisso, o tecido computacional está ficando cada vez mais distribuído e ubíquo.
Você tem agora mais poder de computação. O poder de processamento gráfico num carro, hoje em dia, é maior do que um data center tinha há alguns anos. Com a cloud, você pode acessar esse device. E todos os devices e ‘micro-controles’ pelo mundo, as geladeiras, as furadeiras, todos terão poder computacional. Todas as fábricas terão milhões de sensores.
Então, a computação está se tornando onipresente. E isso significa que os dados estão sendo gerados em grandes quantidades. Depois de ter isso, o que você faz é fazer AI, que é a sua razão para grandes quantidades de dados, usando todo esse poder do computador para se dar, em qualquer aplicativo, em qualquer campo, esse poder preditivo, esse poder analítico poder, essa capacidade de automatizar as coisas.
A cloud nos dá possibilidade de escala com isso.
Eu acho que a próxima fase para o negócio [da Azure] será não mais o de celebrar os contratos com os players de grande escala, mas também quem consegue transformar essa escala em impacto massivo, onde cada negócio irá se transformar num negócio com AI.
Fonte: Entrevista à CNBC em 7 de maio de 2018
MORSE: Quando a gente fala sobre grandes empresas, sempre vem a questão sobre como inovar rápido o bastante. Mas também tem um ponto do legado. Nesse sentido, qual é o erro que os executivos de grandes companhias fazem ao fazer essa conexão?Satya Nadella: Olhar no retrovisor e acreditar que o que teve sorte de uma maneira pode resultar em sorte novamente. Porque não é isso que acontece. A história volta e vai te morder no traseiro. Você não pode ter essa mentalidade de passado. Precisa pensar na frente, estudar olhando para frente. Não é determinista. Não há profecia divina que diz que se você realizou uma coisa com sucesso, você atingirá o sucesso de novo.
Fonte: Entrevista à revista Fortune em 17 de fevereiro de 2020
MORSE: E como acertar o alvo na inovação interna?Satya Nadella: O único conselho mais geral que consigo dar nesse sentido é que o executivo precisa re-conceituar o seu negócio como um “non-zero-sum”. O que significa que o executivo não pode pular no novo paradigma apenas para ganhar novamente o espaço que eles já tinham antes [e perderam devido a tecnologia]. Especialmente se o novo paradigma vem com uma margem bastante baixa, é uma tarefa impossível. Mas, apenas imagine uma empresa ferroviária dos anos 30. Se ela tivesse se colocado como uma empresa de transporte no lugar de uma empresa ferroviária, provavelmente ela teria visto a habilidade de estender ou pular para um novo negócio.
Isso é o que as empresas devem fazer. Elas têm que entender, mais amplamente, em qual categoria ela está inserida e não se definir apenas pela tecnologia que ela usa no momento. Por isso que eu gosto de falar de uma categoria perene ou perpétua que nós estamos inseridos: o local de trabalho moderno. Nós não estamos tentando falar de uma ferramenta ou um serviço. Nosso trabalho é construir nova tecnologia para o lugar de trabalho moderno. É um jeito melhor de pensar no futuro.
Fonte: Entrevista ao podcast da McKinsey Quarterly de abril de 2018
MORSE: Quando falamos em inovação nas grandes empresas, também nos passa a ideia da cooperação com startups. Na semana passada criamos até uma iniciativa de “Adote Uma Startup” para que nesse momento de crise grandes empresa possam se unir às startups. Qual a sua ligação com startups e outras empresas? Como você aprende com elas?Satya Nadella: Uma coisa que eu fiz foi quando eu estava comandando nossa divisão on-line. Reed Hastings [CEO da Netflix], que naquela época fazia parte do nosso conselho, foi gentil o suficiente para permitir que eu acompanhasse o dia a dia da Netflix. Uma das questões que eu tinha era que eu somente trabalhei na Microsoft. Eu não conhecia nenhuma outra grande organização ou empresa de rápido crescimento por dentro. Ele me deixou fazer isso por um tempo. Esse foi o tipo de coisa que procurei.
Quando você é bem-sucedido, há esse incrível ‘bloqueio’ que você cria – um ciclo virtuoso – entre o produto ou o conceito que você está criando, a capacidade necessária para executá-lo e a cultura que os reforça. A diferença entre uma empresa inicial e uma empresa bem-sucedida é que você realmente consegue esse bloqueio. Se você obtém o conceito certo, a capacidade certa e consegue a cultura certa e todos esses fatores estão se reforçando, você conseguiu atingir o sucesso.
Agora, o desafio é o que acontece quando o conceito que você tanto amava e que é um grande sucesso já não está gerando crescimento. Você precisa criar um novo conceito. Você deve inserir uma nova categoria. Para fazer isso, você precisa de novas capacidades e, para construir essas novas capacidades, você precisa de uma cultura que permita que você vá atrás do novo conceito ao invés de matá-lo. Esse é o desafio de qualquer empresa de sucesso.
Fonte: Entrevista dada ao Washington Post, traduzida e editada pela Gazeta do Povo de 29 de setembro de 2017
MORSE: Última pergunta: não podemos ignorar o momento atual de pandemia do Covid-19, onde boa parte da população está resguardada em casa, muitos no Home Office. Como a Microsoft está posicionada para passar por essa crise?Satya Nadella: Existe uma emergência nacional, hoje o que acontecer nos próximos 20 dias é o mais importante. Se olhar as experiências na Coreia e Cingapura, os próximos 20 dias são críticos. Como a gente achata a curva será chave.
Nesse sentido, as pessoas precisam ficar em casa.
Falando da Microsoft, por agora, o foco é no que vou chamar de “nova demanda”. Há um mês, não acho que eu pensaria que o home office integral dessa forma estaria no cenário com o tipo de alta de uso das nossas ferramentas que estou vendo. A ativação do Microsoft 365 está aumentando significantemente.
A mudança para a cloud preparou a economia para lidar com uma grande parte de funcionários trabalhando de casa. Acho que estamos mais bem equipados hoje em dia. Mas, claramente, os picos que estamos vendo nos últimos dias não tem precedentes, certo? Esse não foi o crescimento que olhávamos e tínhamos planejado em qualquer modelo nosso de estratégia.
Fonte: Entrevista à Axios em 22 de março de 2020
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