O CTO é o novo CEO!!!!!

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Durante muitos anos do passado, num país com elevadíssimas taxas de juros e dificuldade de acesso a capital, uma boa gestão financeira era a diferença entre o sucesso e o fracasso em diversos negócios. Não à toa, tivemos uma geração na qual o cargo de Diretor Financeiro (ou CFO) era o que precedia a função de líder máximo de uma empresa e, por consequência, a posição de CEO. Porém, na semana passada tivemos a notícia da segunda instituição financeira que promoveu ao cargo máximo um profissional de Tecnologia. Ou seja, mesmo numa empresa de viés financeiro, o entendimento do background para o crescimento é outro. Isso obviamente despertou nossos radares em aprofundar um pouco o assunto, os motivos e consequências. Antes de mais nada, não estamos aqui para falar sobre hierarquia ou o entendimento de que uma posição é mais ou menos importante que a outra, ou mesmo que chegar a CEO deve ser o desejo de todos. Nosso intuito aqui é entender o que está por trás destas mudanças e como você, empresa ou profissional, pode entender as ameaças e oportunidades que essas movimentações podem trazer ao seu dia a dia.

From CTO to CEO

A entrada no digital trouxe desafios absurdos para as empresas e aumentou relativamente a pressão sobre o time de tecnologia. Pensando apenas nos últimos 12 meses, esse setor foi responsável por: implementação ou otimização do e-commerce, venda de serviços online, formato de comunicação e cobrança digital, produtos pautados em análise de comportamento dos usuários e espaços seguros de trabalho remoto. E, assim, a lista poderia seguir até o mês que vem. Tudo isso, de alguma forma ou outra, passou pelas mãos do CTO (Chief Technology Officer), CIO (Chief Information Officer) ou o mais recente CDO (Chief Digital Officer), que ganhou ainda mais destaque na posição e mais capilaridade dentro das empresas. E o efeito no mundo profissional já está sendo sentido: nesta semana, a XP Investimentos anunciou que o CTO foi promovido a CEO e acreditamos que esse movimento tem 2 pontos importantes. O primeiro é um olhar sobre diversidade de skills, tema este que foi pauta super interessante de um Podcast que gravamos para o Morse Match, e mostra como empresas estão precisando “oxigenar” suas iniciativas. O segundo é como, no momento atual, a Tecnologia é mais do que nunca o diferencial competitivo de grande parte das empresas; da eficiência do dia a dia, à experiência do cliente, passando pela inovação e, o mais importante, o risco de você ser atropelado já que o que mantém a maior parte dos CEOs acordado à noite é o medo de que um concorrente, ou novo entrante, chegue com uma tecnologia disruptiva que vire o seu mercado de cabeça para baixo. Como qualquer capitão de navio que precisa enxergar os icebergs pela frente, como um CEO pode enxergar estes desafios e oportunidades sem conhecimento e experiência no assunto?

Um olho no peixe, outro no gato

No mundo das startups, ter um CEO com um pé no produto ou na área técnica traz resultados positivos, principalmente se a empresa for voltada para o segmento B2B. De acordo com uma pesquisa feita nos EUA, com dados de startups dos últimos 10 anos, os times de startups B2B com um co-fundador técnico tiveram uma performance 230% melhor. No Ghost Interview, volta e meia, pipocam histórias de startups B2B com “geeks” como fundadores, a Stripe, de que falamos essa semana é um exemplo. Esse número se traduz de uma outra forma para as empresas grandes (já que, bem, ainda não é possível trocar de fundador de uma companhia) e até mesmo para as médias: a procura por uma pessoa mais técnica no círculo próximo ao CEO. E essa aproximação tem um efeito positivo. De acordo com uma pesquisa feita pela Deloitte, as empresas cujo CTO/CIO é mais próximo do CEO – ou em que o CEO tem um background mais tecnológico – tendem a ser 2,5 vezes mais propensas a adotar a tecnologia como forma de chegar nos objetivos da companhia. O Gartner aponta que, até 2024, o CIO de grandes empresas se tornará um “COO por proximidade”.

Tecnoking in a Tecnokingdom

A mesma pesquisa da Deloitte que falamos aqui em cima, feita com mais de 1 mil líderes de grandes empresas pelo mundo, mostra que 50% dos CEOs consideram o CIO e os líderes de tecnologia os seus “braços direitos estratégicos”, para vocês terem uma ideia, o board das empresas é citado apenas por 26% como “braço direito”. Em entrevista exclusiva para o Morse, Sérgio Souza, country manager e CEO da G4S (e ex-CIO de diversas empresas, como a VisaNet, afirmou como o papel estratégico da tecnologia dentro de empresas acabou exigindo que CTOs tenham uma visão cada vez mais integral dos negócios, o que deu ainda mais destaque para o cargo. “Por isso a posição de CTO tem trazido várias das promoções, os CTOs passaram a ser mais cobrados para ter o entendimento melhor do negócio, passaram também a estudar todas a áreas da empresa e a ver tudo, não só o técnico. A tecnologia não vai diminuir em importância, a visão de negócio idem”, comentou Souza. Não é à toa que, nos Estados Unidos, quando em dúvida sobre quem substituí-lo, Jeff Bezos acabou optando pelo líder da AWS, Andy Jassy. Outra varejista, só que brasileira: grande parte do crescimento da Magazine Luiza nos últimos dois anos se deu pela aproximação entre Frederico Trajano e André Fatala, CTO da empresa que ganhou autonomia para tocar os projetos e os modelos digitais dentro da empresa quando ainda estava liderando o Magalu Labs. E também não é fora de ordem a gente lembrar que, nessa semana, o CEO da Tesla, Elon Musk, se deu o cargo de “tecnoking” da empresa. Ok, é um pouco fora da caixinha, mas prova o nosso ponto: se a tecnologia é parte integrante de todos os negócios, não há lógica que aponte por que o novo líder não possa ter experiência como CIO/CTO.

Quero ser Big Tech

Até agora falamos do CEO e do CTO como duas pessoas separadas, andando em prol do mesmo objetivo na empresa, certo?! Pois bem, não é surpresa para ninguém se a gente comentar o quanto boa parte das companhias está se esforçando para se tornarem big techs, super apps, marketplaces e afins. Só por aqui no Morse já falamos de operadoras, varejistas, empresas de educação, empresas de saúde, todas elas migrando para os serviços digitais, aprendendo mais e mais sobre os usuários e oferecendo infraestrutura para outras empresas menores. Falando em operadoras, a Verizon tem como CEO, Hans Vestberg, o seu ex-CTO (o que faz todo sentido, pensando no projeto todo da telco em crescer o 5G pelo mundo)! O Itaú Unibanco mesmo nomeou Milton Maluhy, executivo com um pé na tecnologia e que já liderou a Rede, como seu novo CEO no ano passado e, como uma das suas primeiras ordens, ele criou um Comitê para falar sobre digitalização, elevando o CTO a um posto mais estratégico. Como comentamos aqui, a XP também fez seu movimento: Thiago Maffra, o antigo CTO da empresa, se tornou CEO. “Tecnologia deve compor quase metade da empresa”, disse Maffra em uma entrevista. “Acreditamos que está na hora de acelerar e migrar de um modelo no qual a tecnologia ‘serve o negócio’ para outro em que a tecnologia existe para ‘servir o cliente, de uma forma que funcione para o negócio’”, afirmou Guilherme Benchimol em e-mail enviado a funcionários. Nesta semana mesmo, a notícia é que há outros bancos fazendo procura executiva para o posto de CEO com “pegada tecnológica”. Segundo levantamos pelo Morse Match, joint venture do Morse com a Future Talent com foco em Executive Search para vagas de transformação digital, os postos de CTO com viés de CEO estão começando a surgir cada vez mais.

A new role

O novo posto de destaque nas companhias é acompanhado de uma mudança de perfil dos profissionais desse cargo: mais estratégicos, alinhados ao negócio, conhecedores de gestão de pessoas e de visão integral das questões financeiras da empresa. Falando um pouco sobre a sua própria experiência, Sérgio comenta que, na transição de carreira entre CIO e CEO, ajudou ele ter conhecimento sobre a tecnologia que acelera processos estratégicos. “Como CIO, eu tentei me aprofundar em entender o negócio em que estava inserido, e as necessidades que existiam para o uso da tecnologia que estávamos tentando colocar. Fazer a tecnologia para acelerar e aumentar a eficiência e gerar mais resultado para a empresa. Quando virei CEO, entendi que quase todas as áreas da empresa precisam ter essa mesma responsabilidade do negócio, de entender como tudo se conecta e como tudo é uma engrenagem”, disse Souza. Ainda complementou “e hoje em dia é muito complicado ter uma empresa que não use tecnologia como suporte de uma área estratégica”.

O caminho está aberto

Em entrevista exclusiva ao Morse, Roberto Gallo, CEO e fundador da Kryptos, comentou sobre como o tempo que passou acumulando as funções de CTO e CEO na própria empresa acabou se tornando um processo de aprendizado enorme. “Na verdade, eu ainda estou nesse processo de aprendizado”, ele brincou. “Eu tive que entender que a gente não pode ficar `apaixonado` pelas soluções de problemas sem estar atento ao que o cliente precisa ou, mais importante, ao que o cliente precisará no longo prazo”. Segundo Gallo, o profissional técnico tende a ser mais focado em resoluções de problemas e se aliar isso à visão comercial, é um ganha-ganha. Outro ponto que ele apontou, e que Sérgio também falou, é sobre a cultura. “O CEO é o guardião da cultura dentro das empresas: engajar as pessoas, fazer todos irem na mesma direção, ser um ponto de referência para os outros. E é nesse ponto que muitos técnicos falham, porque é um ponto que exige não só características de personalidade, mas também demandam atenção e estudo, o que é deixado de lado por parte desses profissionais”, disse Gallo.

To code or not to code

Estamos trazendo a perspectiva de como profissionais de tecnologia estão ganhando oportunidades profissionais em cargos e posições cada vez mais estratégicas, porém, e se você não possui background de tecnologia? Por onde começar? Pelas conversas que tivemos com profissionais para fundamentar esse artigo, passando pelas pesquisas que listamos aqui, e pela nossa experiência em, digamos, mais de 100 Ghost Interviews, diríamos que o que faz a diferença de um profissional de tecnologia para posições estratégicas não está diretamente relacionado a sua capacidade de programar, ele mesmo, os produtos e projetos das empresa. Uma pequena observação a ser feita aqui: quando falamos um profissional, também falamos de profissionais mulheres porque cada vez mais as mulheres estão ganhando espaço nessa transição entendendo que a tecnologia estratégica, diferença da tecnologia do passado, demanda skills que abrem mais oportunidades para as lideranças femininas em tech.

É óbvio que, hoje em dia, depois de diversas empresas surgindo na garagem ou no quarto de faculdades, programar na madrugada seus próprios códigos para os produtos tem o seu charme. Mas se você está hoje numa posição de liderança, ou quase lá, e esse texto te pegou pensando, “e agora ?”, saiba que o principal ativo de um profissional de tecnologia numa posição estratégica está mais relacionado à forma de pensar e em como trazer conceitos de tecnologia para gestão: desenvolvimento ágil, MVP, otimizações, automações, escala, exponencialidade, data driven, experiência do usuário são todos os pontos chave que um Gestor precisa ter mapeado com cabeça de tecnologia. “Saia da caixa, olhe para o lado, não somente para a tecnologia, olhe para a área que está do seu lado, para os processos, para entender como você, profundo conhecedor da infra e da técnica, pode fazer aquela área trabalhar melhor, como a tecnologia pode motivar mais as pessoas”, Souza deixou essa dica para a gente compartilhar com vocês. E a gente acrescenta: antes de sair se matriculando em cursos de programação, pense com calma no que realmente são skills que você precisa buscar para que você seja um profissional com visão de tecnologia, mesmo que o máximo que você saiba programar sozinho seja o despertador. E se quiser mergulhar de cabeça, empresas como a StartSe possuem imersões, cursos e viagens, que tem como objetivo transformar a cabeça de CEO em cabeça de CTO/CIO…

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