Ghost Interview
As startups de Bono Vox
Hoje, o Summer Ghost foi atrás de Paul David Hewson – ou Bono Vox, para os mais chegados. Filantropo, cantor, ativista, pacifista, ele, de fato, é uma pessoa excelente para a gente se inspirar nesse começo de 2020, já que faz uns anos que Bono acrescentou mais uma atribuição a esta lista: investidor de startups!
Nos anos 2000, ele contribuiu com Steve Jobs para o aperfeiçoamento do iPod e do iTunes. Depois criou a Elevation Partners, que chegou a investir no Facebook e no Yelp (e também colocou dinheiro no Dropbox). Agora, a frente do Rise Fund, Bono tem outro objetivo: mudar o mundo a partir da tecnologia. Confira só esse lado pouco conhecido do líder do U2 (e que tal ler essa entrevista enquanto escuta esta playlist):
MORSE: Bono, vamos começar lá em 2004, quando você trabalhou diretamente com o Steve Jobs para o lançamento de uma versão do U2 para o iPod: como começou essa relação? Qual a ligação que você vê entre o seu mundo – da música, do rock – com o de Steve e da tecnologia?
Bono Vox: O Steve estava tentando entender uma das questões mais fundamentais da nossa época: existe algum valor no trabalho de um músico?
Ele respondeu a essa pergunta com o iTunes, assim ele tornou mais fácil para as pessoas respeitarem os direitos intelectuais dos artistas. Por volta de 2004, tivemos a ideia de oferecer “Vertigo” para um comercial do iPod e fomos ver Steve em sua casa em Palo Alto. Ele ficou impressionado que a gente queria ‘doar’ a música para o comercial e aceitou. Então pedimos para também aparecer no comercial, ele também não viu problemas. A gente, então, foi além: falamos ‘bem, não queremos ser pagos pelo comercial, mas gostaríamos de um iPod do U2, um iPod preto’. A primeira resposta dele foi negar, porque afirmou que a cor do iPod tinha que ser branca. Mas no final, ele acabou cedendo. E tivemos a nossa edição do iPod preta e vermelha. Desde então, mantive uma relação de amizade com o Steve.
(…)
Se alguém te perguntasse há alguns anos atrás: quem vai inventar o século 21? Você provavelmente teria pensado nos japoneses ou nos alemães ou nos britânicos. Mas, não, foram os amantes da música, que usam sandálias, hippies da Califórnia. E isso é muito incrível.
As pessoas que inventaram o século 21 tiveram as suas consciências moldadas pelo rock and roll. Não foi só o Steve Jobs, foi o Paul Allen. Até mesmo o Bill Gates. Uma vez eu falei para ele “eu sei que você provavelmente não escuta Jimi Hendrix” e ele respondeu, irado “você está brincando comigo? Em todo o meu tempo passado ao lado de Paul Allen, como você acha que eu não fui moldado pelo Jimi Hendrix? Era só o que escutávamos 10 horas por dia”.
Os filhos dos anos sessenta estão mudando seriamente o mundo. Steve Jobs está lá em cima, ele é, em muitos aspectos, o Bob Dylan de máquinas, ele é o Elvis do tipo de dialética de hardware e software. Ele foi uma criatura de pensamento bastante progressista, e sua referência por forma, som, contorno e criatividade não veio da sala de reuniões.
Eu realmente respeito as pessoas envolvidas em negócios que têm olhos e ouvidos de artista. Há muito poucos. Steve era um guardião muito, muito duro e tenaz da marca Apple, mas o que mais o agradava aos artistas era sua insistência em que as coisas deviam ser bonitas. Ele não faria coisas feias que gerassem lucros.
A grande lição para o capitalismo é que Steve, no fundo, não acreditava que o consumidor estava certo. No fundo, ele acreditava que estava certo. E que o consumidor respeitaria um forte ponto de vista estético, mesmo que não fosse o que eles estavam pedindo. Ele acreditava que, no fundo, se servisse o que era certo e o que era ótimo, serviria ao acionista da Apple e, se perseguisse o que eles queriam, os decepcionaria.
Esse cara, meu amigo, e tenho orgulho de dizer, meu colega – ele mudou a indústria de música, mudou a de filme, mudou a de computador pessoal. É um incentivo maravilhoso para as pessoas que querem pensar de maneira diferente, é aí que os artistas se conectam a ele. É um incentivo real para as pessoas que não frequentaram uma escola particular cara, que não sabem usar os talheres certos numa mesa de jantar chique, que não têm o sotaque certo. Essa atitude anárquica de “foda-se” da Costa Oeste realmente governa o século 21.
Fonte: Entrevista à revista Rolling Stone em 7 de outubro de 2011
MORSE: Ainda sobre a relação U2 e Apple, precisamos lembrar sobre o lançamento de “Songs of Innocence” em 2014, que foi direto no iTunes, e chegou no iPod e nos iPhones de todo mundo. Muitos acabaram não gostando dessa ação. Qual a sua opinião sobre isso?
Bono Vox: Eu peço desculpas por ela. Eu tive essa ideia super bonita e a gente foi meio levado por ela. Artistas tendem a fazer esse tipo de coisa. É um pouco de megalomania, um toque de generosidade, um tiquinho de autopromoção e um medo enorme que essas músicas que criamos não chegariam aos ouvidos de muitos.
Fonte: Entrevista ao The Guardian em 15 de outubro de 2014
MORSE: Bono, você saiu da colaboração para, de fato, financiar startups de tecnologia, qual a sua visão sobre isso? E como foi a sua contribuição para o Elevation Partner?
Bono Vox: Toda vez que vou em uma Summit, a coisa que mais amo é ver como as pessoas de startups se comportam, elas me lembram muito o começo da minha banda. O mesmo tipo de pessoa que estaria em bandas [nos anos 80], agora estão formando startups. Então eu entendo a animação, a emoção.
Fonte: Apresentação na Web Summit de Dublin de 2014, reportada pelo Straits Times em 7 de novembro de 2014
Roger McNamee (cofundador do Elevation Partners): O Bono tem um incrível instinto de marketing. A contribuição dele para o Elevation excedeu as expectativas de todo mundo do fundo, inclusive as minhas. Quando ele vai falar com funcionários do Facebook ou do Yelp, os efeitos são sempre profundos. A ambição de Bono, bem como a sua crença de que a tecnologia vai ditar o futuro da arte e da cultura o aproxima muito do Vale do Silício – e de seus empreendedores. Uma vez ele falou para mim: ‘Roger, você sabe o segredinho do negócio da música? Os músicos são o software. E, porque somos o software, ficamos à mercê do hardware que as pessoas têm. E a maioria das bandas de sucesso é formada por pessoas que entenderam como criar um novo hardware que funcionasse para os seus softwares’.
Fonte: Reportagem de Jim Harrington, do Bay Area News Group de 16 de maio de 2015
MORSE: Bono, em 2018 você entrou no Rise Fund, um fundo voltado para o desenvolvimento e para investir em empresas que ajudem países a atingir os objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU. Este ano, você investiu na Zipline, empresa de drones para entrega de medicamentos, como se deu esse funding?
Bono Vox: Minha história com a Zipline, na verdade, começou há 20 anos. Estava no Malawi, em Lilongwe, e estava observando as pessoas sendo diagnosticadas com HIV Positivo, e a única coisa que falavam para elas era que não tinha tratamento para essa doença. Os medicamentos para essa doença existiam, mas eles não conseguiam chegar lá. Eu ainda consigo visualizar o olhar no rosto de todas aquelas pessoas na fila, não havia raiva, ou ódio, era apenas uma concordância. Eu lembro de me sentir enjoado, pois eu fiquei furioso. Usei esse ódio para me motivar. Eu acabei me agarrando a esse ideal de vida: o conceito de onde você mora não pode, simplesmente, decidir se você continua ou não vivendo.
A Zipline [com os drones] está fazendo a distância desaparecer. E eles colocam as pessoas no centro do seu modelo comercial, que é algo que nós pensamos muito no Rise Fund – que o comércio sempre deve servir as pessoas e não o contrário.
Fonte: Entrevista à Fast Company em 12 de setembro de 2019
MORSE: Em 2019, você também ajudou a criar a Y Analytics, uma companhia de dados que analisa e mede impactos sociais de investimentos. O que levou você a ir para esse lado?
Bono Vox: Matemática é música aqui. Se o capitalismo pode se tornar uma força para o bem, nós precisamos ser capazes de medir quando ele está fazendo bem e quando não está. O pensamento confuso e prolixo não serve para nada. Precisamos dos fatos concretos.
Fonte: Entrevista ao Wall Street Journal em 23 de janeiro de 2019
Bono Vox: O Capitalismo não é imoral, mas é amoral e precisa de direção. Para persuadir os maiores investidores institucionais a comprometer seus fundos a investimentos em causas urgentes do mundo, nós precisamos ter tanta confiança nos retornos do impacto quanto nos retornos financeiros. Precisamos de números – e é isso que o Y Analytics foi criado para fornecer.
Fonte: Press release da TPG em 23 de janeiro de 2019
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